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EFEITO DO PASTEJO RESTRINGIDO EM AVEIA SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE.

EFEITO DO PASTEJO RESTRINGIDO EM AVEIA SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE. EFEITO DO PASTEJO RESTRINGIDO EM AVEIA SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE.



RESUMO - O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do pastejo restringido em aveia (Avena sp.) sobre a produção de leite. Foram utilizadas 12 vacas mestiças holandês-zebu, distribuídas em blocos ao acaso, em dois tratamentos: A. pastejo restringido em aveia (três horas dia-1) mais 10 kg de silagem de milho; B. silagem de milho à vontade como único volumoso. Todos os animais receberam 5,0 kg de concentrado cabeça-1 dia-1 com 19% de proteína bruta (PB) e 75% de nutrientes digestíveis totais (NDT). Não houve diferença (P > 0,05) entre os tratamentos A e B na produção média de leite (14,6 vs 13,3 kg vaca-1 dia-1). Houve diferença (P < 0,05) no teor de gordura (3,4 vs. 3,8%), porém o mesmo não afetou (P > 0,05) a produção de leite corrigida para 4% de gordura. Houve diferença (P < 0,08 ) no ganho de peso vivo. Os animais que pastejaram aveia ganharam 0,53 kg dia-1, e as vacas que consumiram silagem de milho como único volumoso ganharam 0,25 kg dia-1. Concluiu-se que o pastejo restringido na cultivar de aveia São Carlos permite elevada produção de leite com vacas mestiças.

Termos para indexação: Avena byzantina, silagem de milho, vacas em lactação.









INTRODUÇÃO

A falta de forragens em quantidade e de boa qualidade, durante o período seco e frio do ano, faz com que se procurem alternativas para aumentar a oferta de alimentos para nutrição de bovinos durante este período.

Entre as diversas opções de forrageiras de inverno disponíveis para suprir alimento de boa qualidade para o período de escassez de forragens está o cultivo da aveia (Avena sp.), sendo as espécies forrageiras mais importantes a Avena byzantina C. Koch (aveia-amarela) e a Avena strigosa Schreb (aveia-preta) (Floss, 1988).

O nível de produção de leite de vacas com acesso às pastagens é condicionado pelo consumo de nutrientes digestíveis, visto que este consumo é afetado principalmente pela disponibilidade de forragem, pelo teor de fibra detergente neutro (FDN) e pelo teor de proteína bruta (PB) (Blaser, 1988; Moran et al., 1990). Trabalhos realizados no Estado de São Paulo têm caracterizado a aveia como uma forragem de alto conteúdo de proteína bruta (11 a 26%) e baixos níveis de componentes da fração fibrosa (Reis et al., 1993a, 1993b). É importante ressaltar que o teor de FDN ou parede celular, representa a fração química da forragem que apresenta estreita relação com o consumo, e, conseqüentemente, com o desempenho animal (Mertens, 1992).

Na Austrália, níveis elevados de produção de leite vêm sendo obtidos associando-se silagem de milho com forrageiras de inverno (Moran et al., 1990), ao passo que no sul dos Estados Unidos o pastejo em aveia tem proporcionado produções elevadas em grandes rebanhos (Harris Junior, 1994). Em relação à Região Sudeste, o pastejo em aveia vem sendo recomendado para o Estado de Minas Gerais (Coser et al., 1981; Gardner et al., 1982; Alvim et al., 1985). No Estado de São Paulo, níveis elevados de produção de leite com vacas mestiças foram obtidos utilizando-se o pastejo entre a primeira e a segunda ordenha (Rodrigues et al., 1995). Por outro lado, com duas horas e trinta minutos de pastejo em aveia mais azevém foi possível obter ganho diário de 1,26 kg com novilhos alimentados com cana-de-açúcar e concentrado, e 0,90 kg para os animais que não tiveram acesso a aveia mais azevém, o que indica que a inclusão do pastejo em forrageira de inverno, embora por somente um período curto por dia, contribuiu para obtenção de nível elevado de produção animal.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do pastejo restringido na cultivar de aveia São Carlos, associado a silagem de milho e concentrado, sobre a produção de leite.



MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi conduzido na Embrapa-Centro de Pesquisa de Pecuária do Sudeste (CPPSE), em São Carlos, SP. Foram avaliados os seguintes tratamentos: A. pastejo restringido (três horas por dia) na cultivar São Carlos de Avena byzantina C. Koch, pela manhã, mais 10 kg de silagem de milho; B. silagem de milho como único volumoso. Ao completarem o tempo de pastejo, as vacas do tratamento A foram mantidas confinadas em áreas individuais com parte coberta, contendo cocho de alvenaria para fornecimento de silagem. Os animais do tratamento B receberam silagem de milho como único volumoso, durante todo o tempo. Os animais de ambos os tratamentos receberam 5,0 kg de concentrado cabeça-1 dia-1 com 19% de PB e 75% de nutrientes disgestivos totais (NDT).

Após o preparo convencional, a área experimental de dois hectares foi dividida em quatro piquetes com cercas elétricas, e semearam-se sementes da cultivar São Carlos (60 kg ha-1 de sementes), com plantio escalonado, a saber: o primeiro piquete, semeado em 24/4/95, e os demais, plantados após intervalo médio de 10 dias, usando-se uma adubadeira-semeadeira, com 18 cm de espaçamento entre linhas. No momento do plantio, foi feita uma adubação com 50 kg ha-1 de P2O5 na forma de superfosfato simples. A adubação nitrogenada e potássica foi efetuada em cobertura, utilizando-se 80 kg ha-1 de N e 60 kg ha-1 de K2O.

O pastejo foi rotativo, com duas semanas de utilização e seis a sete semanas de descanso. A estimativa da disponibilidade e da qualidade (MS, PB, FDN) da forragem foi efetuada utilizando-se um quadrado de 1m de lado, lançado ao acaso, colhendo-se seis amostras por piquete, antes da entrada das vacas nos piquetes. A forragem encontrada no interior do quadrado foi colhida por meio de cortes efetuados a aproximadamente 10 cm acima do nível do solo. Periodicamente, foi coletada amostra de silagem e ração concentrada para determinação bromatológica.

Os animais experimentais (12 vacas holandês-zebu) foram distribuídos em blocos ao acaso, com base na data do parto, produção de leite e peso dos animais. Para controlar o crescimento da aveia, foram utilizadas vacas extras. As vacas foram conduzidas duas vezes ao dia ao estábulo, e as ordenhas, realizadas mecanicamente, com bezerros ao pé, às 6 h e às 15 h. O controle leiteiro foi realizado semanalmente, juntamente com a coleta de leite de cada vaca para determinação de gordura.

As produções semanais de leite, porcentagem de gordura (% G), e leite, corrigido para 4% G, foram analisadas como medidas repetidas através do procedimento GLM (SAS Institute, 1985).



RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve boa disponibilidade de forragem para as vacas nos piquetes de aveia. As médias de disponibilidade de matéria seca (MS) estiveram sempre acima de 1.700 kg ha-1 de MS (Tabela 1), sendo essa quantidade de forragem disponível na pastagem suficiente para permitir consumo máximo, influindo diretamente no desempenho animal e na produção de leite, conforme resultados observados por Gardner et al. (1982) e Alvim et al. (1993). Pela disponibilidade de MS apresentada ao longo do período experimental, aliada às observações visuais na rebrota, verifica-se que a cultivar São Carlos apresentou boa capacidade de produção, quando submetida a pastejo rotativo e restringido a três horas por dia.








As análises bromatológicas dessa cultivar, sob condições de pastejo, mostraram que a qualidade da forragem disponível nos piquetes, baseada nos teores de FDN e PB, foi superior à observada em pastagens de coast cross (Martinez & Lopez, 1991), geralmente considerada gramínea de boa qualidade, e semelhante aos teores encontrados para aveia forrageira por Reis et al. (1993a, 1993b).

Os resultados das análises da silagem de milho e concentrado encontram-se na Tabela 2.








A análise de variância mostrou que não houve diferença significativa (P> 0,05) entre os tratamentos para a produção de leite. As médias observadas foram 14,6 e 13,3 kg de leite vaca-1 dia-1 respectivamente para os animais que pastejaram aveia ou para os animais que receberam silagem de milho como único volumoso (Tabela 3). Corrigindo-se as produções de leite obtidas para 4% de gordura, verificou-se também que não houve diferença significativa entre os tratamentos (P> 0,05). As médias observadas foram 13,5 e 13,0 kg de leite vaca-1 dia-1, em relação aos respectivos tratamentos (Tabela 3).








Houve diferença significativa (P< 0,05) entre os tratamentos quanto ao porcentual de gordura no leite. Os porcentuais médios foram 3,8% e 3,4%, respectivamente para os animais que pastejaram aveia e para os animais que receberam silagem de milho como único volumoso (Tabela 3). Esses teores de gordura no leite são semelhantes aos teores encontrados por Paiva et al. (1986), que utilizaram níveis de concentrado semelhantes aos deste trabalho (4,5 a 6,0 kg) e inferiores aos teores médios de 4,4% relatados por Campos et al. (1993), sem no entanto haver uma explicação evidente em relação aos menores valores encontrados, uma vez que estes autores utilizaram nível de concentrado (6,0 kg vaca-1 dia-1) pouco superior ao que foi utilizado (5,0 kg vaca-1 dia-1) neste experimento.

As curvas de produção de leite referentes aos dois tratamentos são apresentadas na Fig. 1. Embora as médias iniciais fossem semelhantes (13,2 kg de leite), em poucos dias as vacas com acesso à pastagem de aveia (cv. São Carlos) aumentaram a média de produção para 17 kg de leite, um incremento de 29%, enquanto o grupo que recebeu silagem de milho como único volumoso não passou dos 15,5 kg de média por vaca por dia, ou seja, um incremento bem menor (17,4%). O incremento rápido na primeira semana mostra que a utilização de pastejo restringido na cultivar São Carlos permitiu que vacas mestiças exibissem maior pico de produção, o que é importante em termos de produção total na lactação. O efeito do pastejo restringido na cultivar São Carlos, permitindo obter média geral de 14,6 kg vaca-1 dia-1, é relevante, considerando-se as informações resultantes de levantamento da média de produção de leite, na região de São Carlos, realizado pela Embrapa-CPPSE, que mostra média de 8,6 e 6,3 litros vaca-1 dia-1, respectivamente, em relação aos produtores de leite B e C, que utilizam pastagens mais concentrado no verão, e silagem mais concentrado no inverno, bem como quando comparado à produção de 8,2 e 9,3 litros vaca-1 dia-1 obtidos com a utilização de azevém, respectivamente, por duas e seis horas por dia (Alvim et al., 1986).








A pequena quantidade de silagem de milho (3,3 kg de MS) oferecida às vacas que pastejaram aveia foi totalmente consumida. No tratamento com silagem de milho como único volumoso, o consumo de matéria seca de silagem de milho foi relativamente alto (12,4 kg de MS), com uma média de produção de 13,3 L vaca-1 dia-1. Em tratamento semelhante, Vilela et al. (1986) obtiveram média de produção de 11,0 L vaca-1 dia-1.

Em razão do consumo de MS e do teor de PB da silagem de milho, e considerando que esta tenha teor mínimo de 53,5% de NDT (Vilela, 1985; Paiva et al., 1986), a dieta com silagem de milho como volumoso exclusivo teria PB e NDT suficientes para nível maior de produção.

Com base nas exigências para mantença e produção de leite dos animais, segundo o National Research Council (1988), foi realizada estimativa do mínimo que teria sido consumido da aveia sob pastejo, subtraindo-se da exigência total de PB e NDT a quantidade de nutrientes consumidos no cocho. O consumo médio de forragem nos piquetes de aveia, baseado neste método, teria sido de 5,5 kg de MS vaca-1 dia-1. Entretanto, o consumo provavelmente deve ter sido um pouco maior que este valor, considerando-se que o consumo de forragem de boa qualidade in natura é superior ao de forragem conservada (Demarquilly & Jarrige, 1970; Moran etal., 1990).

O consumo de MS ¾ aliado ao teor médio de PB (18,7%) apresentado pela aveia sob pastejo e ao teor de NDT da aveia de 62,3% (Vilela et al., 1978) ¾ deve ter proporcionado maior consumo de PB e NDT pelas vacas que tiveram acesso aos piquetes de aveia, permitindo a obtenção dos resultados observados. Embora não tenha havido diferença na produção de leite, o maior consumo de nutrientes resultou em maior ganho de peso.

Com base em trabalho de Frizzone et al. (1995), estimou-se o custo da pastagem de aveia irrigada em US$ 1,00 vaca-1 dia-1. Considerando esse valor e o custo da silagem de milho em US$ 0,02 kg-1 (Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, 1994) e do concentrado em US$ 0,22 kg-1, estimou-se o custo do litro de leite produzido em US$ 0,16 e US$ 0,14, respectivamente, em relação aos animais que pastejaram aveia ou que tiveram silagem de milho como único volumoso (Tabela 4). Mediante avaliação econômica, verificou-se que o custo por litro de leite produzido foi maior no tratamento que envolveu o pastejo de aveia. Entretanto, em razão da produção de leite obtida nesse tratamento, as margens líquidas vaca-1 dia-1 (Tabela 5) foram semelhantes (US$ 2,1 vaca-1 dia-1).













A variação porcentual de peso vivo foi positiva, ao contrário do que foi verificado por Alvim et al. (1993), que verificaram perda de peso quando utilizaram pastagem mista de setária e azevém e do trabalho de Campos et al. (1993) no qual foi utilizado silagem de milho e 6,0 kg de concentrado.

Houve diferença (P< 0,08) no ganho de peso vivo. As vacas que pastejaram aveia ganharam 0,53 kg por dia e as vacas que consumiram silagem de milho como único volumoso ganharam 0,25 kg por dia, o que indica que houve limitação de potencial genético dos animais para obtenção de níveis mais elevados de produção de leite.



CONCLUSÃO

O pastejo restringido de aveia, cultivar São Carlos, permite que vacas mestiças tenham média elevada de produção de leite.









Fonte: EMBRAPA