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OS FATOS E BOATOS DO PASTEJO ROTACIONAL

OS FATOS E BOATOS DO PASTEJO ROTACIONAL OS FATOS E BOATOS DO PASTEJO ROTACIONAL


Pressões de diversas naturezas, principalmente política e ecológica, têm despertado proprietários de terras para a necessidade de aumentar o nível de adoção de tecnologia no campo com vistas a enquadrar a propriedade nos parâmetros oficiais de produtividade para fins de taxação.
Especificamente na área de pecuária de corte, atividade tradicionalmente de baixa produtividade, essa pressão se faz sentir de forma particularmente marcante, em consequência da gradual e histórica degradação dos solos e dos recursos pastoris decorrente de sistemas inadequados de exploração. Além disso, as propriedades pecuárias são geralmente mais extensas e por isso, visadas nos programas de desapropriação para fins de reforma agrária.
É grande o número de pecuaristas que procuram na Embrapa-Gado de Corte informações sobre cruzamentos industriais, controle sanitário, adubação e correção de solos, pastagens consorciadas, confinamento, suplementação a pasto, mineralização, desmama, castração, espécies forrageiras, formação de pastos, métodos de pastejo, e muitos outros. Isto pode ser tomado como um indício de que a terra deixou de ser uma mera forma de aplicação financeira para assumir a função que legalmente sempre teve, qual seja, de bem social com finalidade produtiva.
Influenciados por relatos frequentes de representantes de entidades que vendem tecnologia, às vezes em termos e tons apaixonados e entusiásticos, não são poucos os que têm se interessado em utilizar pastagens com gado de corte pelo método rotacionado, caracterizado pela subdivisão da área total em áreas menores e que são usadas pelos animais em sequência, com períodos de uso e de descanso mais ou menos rígidos e definidos.
Apregoa-se que pastagens usadas por este método são mais produtivas, suportando lotações animais elevadas. Que são de melhor qualidade, proporcionando ganhos por cabeça superiores aos obtidos em pastejo contínuo. Ainda que aumentam de produtividade com o passar do tempo, que a distribuição de dejetos é uniforme. Que, também, se for degradada ela se recuperará mesmo sem uso de fertilizantes. Tem-se com certo que seus resultados são de baixo custo e altamente econômicos e que, da mesma forma, elas não se degradarão jamais, pois o método respeita a fisiologia da planta. Enfim, tudo, ou quase tudo, que os pecuaristas hoje em dia - em geral descapitalizados - gostam de ouvir. Alta rentabilidade com pouco, ou de preferência, nenhum investimento.
Estes "milagres" merecem, algumas ponderações: O fato de o sistema ser denominado "Rotacional Racional" deixa a impressão de que outros em uso são irracionais. E isso não é verdade. O excesso de lotação é um erro constante no uso das pastagens, geralmente usadas em sistema de pastejo contínuo. E isso é, uma das fortes razões para a sua rápida e acentuada degradação. Entretanto, rigoroso controle de número de animais por área é recomendação indispensável para qualquer sistema de pastejo.

O método mais simples é o contínuo
Em pastagens tropicais, a produtividade animal sob pastejo contínuo pode ser tão boa quanto em pastejos rotacionados e, em alguns casos, até melhor. Este é um fato constatado por produtores e pesquisadores australianos, por exemplo.
Uma vez estabelecida a lotação animal mais adequada para uma dada espécie forrageira num dado local, o pastejo contínuo é um método mais simples e bem definido. Já no rotacional, pode existir variações em função do número de subdivisões, períodos de pastejo e de descanso.
Na impossibilidade de se testar todas as modalidades possíveis (leia-se: diferentes combinações entre tamanho de piquete x período de descanso x período de pastejo), a escolha daquela a ser usada é sempre subjetiva ficando sempre a dúvida da existência ou não de interação do método x modalidade de pastejo. Em outras palavras, não se sabe se os resultados seriam os mesmos em outra modalidade rotacional em que os períodos de utilização e/ou de descanso fossem diferentes.
Estudos feitos por pesquisadores da Embrapa-Gado de Leite resultaram de que não houve diferença na produção de leite quando o tempo de utilização foi de 1, 3 ou 5 dias em capim-elefante. Entretanto, outras forrageiras e outras variáveis devem ser pesquisadas.
Espécies forrageiras é fator de alta significância quando se trata de comparar métodos de pastejo rotacional e contínuo. Isto quer dizer que algumas espécies mostram-se melhor adaptadas a um determinado sistema de pastejo do que outras.
A alfafa é forrageira que não tolera pastejos contínuos. A leucena é mais produtiva em rotação com duas subdivisões do que em pastejo contínuo, em uma única área de pastejo. O Capim-elefante tem sido usado em pastejos com gado leiteiro de média produção e postula-se que para esta forrageira o método de pastejo deve ser rotacionado, a despeito da falta de dados comparativos com o método contínuo. Na Embrapa-Gado de Corte tem-se observado que os capins Tobiatã e Mombaça, em pastejos contínuos, são consumidos de forma desuniforme, pois em um mesmo piquete observa-se áreas quase não pastadas e outras super-utilizadas. Acredita-se por isso, que estes capins e outros com estas características seriam melhor utilizados pelos animais por alguma modalidade de pastejo rotacional. Este aspecto está sendo estudado na Embrapa-Gado de Corte com capim Mombaça, mas outras forrageiras comuns como Braquiária decumbens, Marandu e Tanzânia. Elas são de utilização bastante uniforme em pastejo contínuo e, por isso, é duvidoso que não haja alguma vantagem em utilizá-las em rotação.
São escassos os trabalhos que se dedicaram a comparar métodos de pastejo em pastagens tropicais e, mesmo assim, os poucos resultados raramente se referem a períodos superiores a três anos. Assim sendo, há mais dúvidas do que certezas no que diz respeito aos defeitos de longo prazo dos sistemas de pastejo, em especial do rotacionado.

Em pastagens temperadas de diversas espécies, o acréscimo de 8% na produção de carne proporcionado pelo método rotacional quando comparado com o contínuo, registrado por pesquisadores neozelandeses. Foi atribuído a uma maior quantidade de forragem conservada no período de maior produção e transferida para o período de escassez, no método rotacional. Também em revisão feita por pesquisadores alemães, ingleses e belgas dos trabalhos europeus nesta linha, indicaram produção de carne 6% superior no sistema rotacional e apenas 1,5% para produção de leite, sendo a composição química da forragem consumida pelos animais semelhantes nos dois sistemas.

Há forrageiras tropicais que, em função de suas características agronômicas e fisiológicas, se comportam melhor sob pastejo rotacional já que proporcionam melhor aproveitamento pelos animais, evitando o pastejo em mosaico ou em reboleiras. Por outro lado, pastagens de gramíneas consorciadas com leguminosas, dadas as diferenças fisiológicas entre estes componentes, em princípio, não de adequam ao uso de rotacionais intensivos. Sistemas menos intensivos deveriam ser estudados para este caso.

Em debate feito por pesquisadores australianos sobre forrageiras tropicais, chegou-se às seguintes conclusões:
o qualquer forrageira que apresenta bom desempenho em pastejo contínuo, apresentará também bom desempenho em pastejo rotacional. Entretanto, o contrário não é necessariamente verdadeiro, pois há forrageiras que devem ser utilizadas em rotação; o não há evidências de superioridade de um método sobre o outro, salvo nos casos citados e, portanto, deve-se dar preferência ao método contínuo com carga fixa, por ser mais simples e menos custoso.

Um dos problemas do método rotacionado está no custo elevado de sua implantação
Na Embrapa-Gado de Corte têm sido desenvolvidos alguns trabalhos envolvendo pastejo rotacional e até comparando com o método contínuo. Uma das grandes objeções ao método rotacional sempre foi o elevado custo advindo da necessidade de construção de grandes extensões de cercas e instalações de aguadas.

O primeiro problema parece ter sido resolvido com o advento das cercas elétricas, hoje em disponbilidade no país com grande número de marcas e modelos. Porém, o de aguadas ainda é um fator de preocupação, pois o sistema de instalação de uma única fonte de água num corredor comum a todos os piquetes do sistema, acarreta acúmulo de fezes nestes corredores e parece só funcionar para pequenos módulos. Aliás, tamanho máximo do módulo do pastejo rotacional é outra pergunta ainda à espera de resposta.

A maioria dos sistemas atualmente em uso são pequenos módulos de observação ou experimentais, envolvendo pequenas áreas e pequeno número de animais. O aumento destes parâmetros ao nível prático real, de fazendas, pode trazer à tona novas indagações sobre tamanho e número de aguadas e saleiros, super-pisoteio de corredores etc.

Está hoje bastante arraigada a crença de que, apenas fazendo-se pastejo rotacional, é possível se recuperar pastagens degradadas.

Este é um problema atual, da maior importância, e sabe-se que é causada pela ação simultânea de diversos fatores, dentre eles o super-pastejo causado pelo excesso de animais mantidos sem nenhum controle nas pastagens.

Ao se fazer a subdivisão de uma área degradada para adoção de alguma modalidade de pastejo rotacional, evidentemente preocupa-se em adequar a lotação animal à produção de pasto, eliminando-se um dos fatores da degradação. A vegetação da área deverá melhorar. Porém isso só ocorrerá até o ponto em que a fertilidade do solo o permitir independentemente do método de pastejo. E, em geral, ela não permite muito, pois em solos degradados as deficiências minerais são severas.
A recuperação de pastagens se faz através da correção destas deficiências. Boa utilização é apenas um meio de garantir a continuidade do processo e isso pode ser conseguido tanto por pastejo rotacional quanto por contínuo.

Em ambos, lotação animal compatível com a capacidade produtiva do pasto é um fator chave, e entende-se que, pelo método rotacional, é mais fácil de se fazer os ajustes necessários dado o maior volume de atenção e gerenciamento geralmente dispendido.

Em ambos, lotação animal compatível com a capacidade produtiva do pasto é um fator chave, e entende-se que, pelo método rotacional, é mais fácil de se fazer os ajustes necessários dado o maior volume de atenção e gerenciamento geralmente dispendido.

O tema, manejo rotacional de pastagens, é polêmico em função da indefinição gerada pelo grande número de modalidades possíveis pela combinação das diversas variáveis que o compõe. A generalizada tendência para se considerar pastejo rotacional melhor do que contínuo deve ser recebida com cautela. Segundo informações disponíveis, pouco numerosas e incompletas, é aceitável que isso pode ser verdadeiro para determinadas forrageiras, situadas ou modalidades de pastejo rotacional. Porém, pastejo contínuo, desde que bem administrado, proporciona resultados de desempenho animal idêntico, e frequentemente a custos de implantação e administração mais baixos.

Fonte: Embrapa Gado de Corte