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O BICHO PAPÃO DO MERCADO DE FUTUROS.

O BICHO PAPÃO DO MERCADO DE FUTUROS. O bicho papão do mercado de futuros.



Os derivativos passaram de mocinhos e provedores de soluções para o papel de vilões e responsáveis únicos por todos os males do mundo. Falar em derivativos, hoje, dentro das empresas soa como palavrão, uma heresia digna de punição severa. Na melhor das hipóteses, um indutor de arrepios em todos os escalões das empresas.


Derivativos não é bicho-papão. São ativos financeiros que permitem a transferência de riscos sem transferência de recursos. Sem eles, as empresas comprometem caixa, diminuem a flexibilidade das operações, deixam de olhar as perspectivas de médio e longo prazo e se concentram no aqui agora, perdendo visão de futuro.


Peter Bernstein, economista americano e autor de "A História do Risco", matou a charada quando disse que os derivativos são como uma lâmina de aço, "podemos nos barbear com ela, mas também podemos cortar os pulsos". Depende da dosagem do remédio.


Fatos recentes sobre as operações de derivativos por empresas brasileiras são, até onde se sabe, um exemplo de como usar mal a lâmina de barbear. No mercado de commodities agrícolas, no entanto, os derivativos têm sido usados de maneira responsável, como garantia de preço mínimo para o produtor (que pode planejar melhor o que vai plantar, sabendo quanto vai receber); de preço máximo de aquisição de matérias-primas para as empresas do setor alimentício, agregando valor ao acionista pela flexibilidade de suas operações e dos produtos oferecidos tanto nos mercados futuros como pelos provedores de operações de balcão.


Houve também problemas com empresas do agronegócio brasileiro, em operações com commodities. Mas, as empresas que se deram mal na recente história dos derivativos agrícolas guardam pouca ou nenhuma relação com os instrumentos em si, mas sim com a má gestão, com a alavancagem especulativa e falta de conhecimento dos riscos. Essa não tem sido a regra, mas a exceção.


Há dez anos, o volume negociado nas principais bolsas de commodities do mundo era 6 vezes o volume negociado no mercado físico. Para cada saca de café negociada no mercado internacional havia o equivalente a 6 sacas negociadas nos mercados futuros. E por que esse número? Porque toda a cadeia do agronegócio café, por exemplo, estava focada em diminuir riscos de preço. É o produtor se protegendo, o exportador travando margens, é o banco provendo proteção no mercado de opções, diminuindo a inadimplência do cliente, a trading mitigando riscos, o importador travando o preço da mercadoria, e por aí vai.


No caso do açúcar, existe uma cristalina percepção de que os participantes desse mercado têm usado e abusado de NY não apenas para se proteger das oscilações de preços no mercado internacional, mas também para dar respaldo a muitos negócios feitos com açúcar no mercado interno, que utilizam as cotações de NY como balizadores de preço. Some-se a isso negócios com etanol que usam o açúcar como balizador.


Os derivativos são imprescindíveis na gestão de risco das empresas do agronegócio que primam


pela modernidade. Há de esclarecer essa confusão de conceitos que os colocam como causa dos males do mundo. Seria a mesma atitude daquela pessoa que chegou em casa e surpreendeu o cônjuge no sofá em adultério. Com raiva, vendeu o sofá.


(Arnaldo Luiz Corrêa - Especialista em gestão de riscos em commodities agrícolas e diretor da Archer Consulting, empresa de assessoria em Mercado de Futuros, Opções e Derivativos. contato@archerconsulting.com.br)

Fonte: GAZETA MERCANTIL.