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A INSEGURANÇA ALIMENTAR E A CRISE MUNDIAL.

Publicada em 06/10/2008 às 20:03:25

A INSEGURANÇA ALIMENTAR E A CRISE MUNDIAL.A insegurança alimentar e a crise mundial





O pacote de subvenção aos bancos, proposto pelo governo e modificado e aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, poderá resgatar o ânimo do mercado financeiro internacional. Porém, permanecerá na fila, sem solução à vista, um dos mais perversos indicadores: a fome, que, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), atingiu mais 75 milhões de pessoas no ano passado, devido ao aumento dos preços dos alimentos, passando a afetar 925 milhões de indivíduos (15% da população mundial).
A crônica insegurança alimentar será agravada pela crise desencadeada pela farsa imobiliária norte-americana, que possivelmente enriqueceu inescrupulosos especuladores. O maior efeito será no crédito ao agronegócio em 2009, pois os bancos e tradings enfrentarão obstáculos à captação de dinheiro.

O repasse aos produtores e indústrias terá análises mais rigorosas e spreads maiores. No Brasil, a questão é ainda mais preocupante, já que as tradings, grandes financiadoras da agricultura nacional, diminuíram a oferta de crédito e limitaram a compra antecipada já na presente safra.

A redução nessa oferta de dinheiro em 2008 não se deve diretamente à crise financeira, mas à oscilação dos preços das commodities em 2007, e a tendência está-se mantendo.

Assim, os financiamentos de fontes estatais tornam-se estratégicos. Porém, numa incrível ironia, no exato momento em que se enfrenta uma grave crise internacional, em 2008 o Brasil terá a menor participação, em todos os tempos, dos bancos públicos no crédito rural: 55%, muito a-quém do verificado no início do Plano Real.

Naquela ocasião, as instituições ligadas ao governo eram responsáveis por 80% dos empréstimos. A lei estabelece a destinação de 25% dos depósitos à vista e 65% da poupança ao crédito rural, mas no Banco do Brasil, por exemplo, 27% da carteira agrícola, de R$ 61,6 bilhões, já estão comprometidos com transações prorrogadas.

Os problemas expõem a necessidade de uma política nacional e causam inquietação interna e externamente, considerando a importância do País como produtor de alimentos. Mais do que isso, enfraquecem a posição conciliatória brasileira na Rodada Doha. Afinal, se não conseguimos cuidar de nosso próprio quintal, como assumir responsabilidades cosmopolitas quanto à produção agrícola, oferecendo contrapartidas ao fim dos subsídios de US$ 376 bilhões dos países desenvolvidos?

Seus produtores, aliás, continuarão sendo aquinhoados, pois as nações ricas, mesmo à custa de um estratosférico déficit público, como ocorrerá nos Estados Unidos no socorro aos bancos, não abrirão mão de suas posições, incluindo gastos militares absurdos (US$ 1,3 trilhão em 2007, 6% a mais do que em 2006).

Enquanto isso, a FAO, de chapéu na mão, pede apenas US$ 30 bilhões para fomentar a produção de alimentos.

De nada adianta um brado retumbante contra a situação, como fez o presidente Lula na 63 Assembléia Geral da ONU, em 23 de setembro último, se não garantirmos, com exemplares políticas públicas, a segurança alimentar dos próprios brasileiros.

O País deve comemorar o fato de o crescimento econômico ter permitido que 9 milhões de pessoas saíssem da miséria e 20 milhões passassem à classe média. Esses valorosos cidadãos, a exemplo de chineses e indianos, adotarão novos padrões alimentares. Cabe à agricultura zelar para que os preços não subam mais, mantendo equilibradas a oferta e a demanda de alimentos.

Mais do que nunca, é preciso ressaltar a importância de uma política de segurança alimentar e considerar novos conceitos e desafios: a alimentação inadequada que leva ao diabetes, que atingirá cerca de 10% dos brasileiros nos próximos 20 anos; a alimentação dos idosos, que cresceu 47,8% na última década; a educação alimentar para combater a obesidade e desperdícios; e redução de impostos sobre alimentos.

Estas ações são estratégicas para uma política de segurança alimentar, que não deve resumir-se aos surrados discursos de combate à fome.

O sagrado direito à vida passa por comida de qualidade e acessível a todos.


Fonte: GAZETA MERCANTIL