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CRESCIMENTO ZERO SERÁ BOM RESULTADO PARA O BRASIL EM 2009.

Publicada em 15/12/2008 às 09:42:26

CRESCIMENTO ZERO SERÁ BOM RESULTADO PARA O BRASIL EM 2009.Crescimento zero será bom resultado para o Brasil em 2009.


Kenneteh Rogoff, professor de Harvard, ex-economista-chefe do FMI, diz que País está mais bem preparado para enfrentar a crise, mas não tem como escapar de seus efeitos .






PESSIMISMO - Mundo enfrenta a pior recessão do pós-guerra, diz Rogoff

O americano Kenneth Rogoff, de 55 anos, é um dos mais respeitados economistas do mundo hoje, o que não significa dizer que seja unanimidade. Suas posições ortodoxas, muitas vezes expressas de uma forma contundente, nem sempre agradam ao interlocutor. Em 2002, quando era economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), envolveu-se em uma polêmica pública com o ex-economista-chefe do Banco Mundial e ganhador do Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz. O tema da contenda era globalização.


Talvez pelo cargo que tenha ocupado, Rogoff procura manter-se atualizado sobre a economia de vários países, entre eles o Brasil. Esse conhecimento dá a ele a certeza de que o mundo está em meio à pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Nessa conjuntura, ninguém vai escapar ileso. Por isso, avisa:

o Brasil deve dar-se por satisfeito se não enfrentar uma recessão em 2009. "Crescimento zero será um bom resultado, levando-se em conta o ambiente global", diz. Rogoff, que hoje leciona na Universidade Harvard, conversou com o Estado, por telefone, durante uma viagem de trem de Boston para Nova York.

Em um artigo publicado há duas semanas, o sr. disse que o maior problema dos países ricos é a recessão. Por isso, eles devem deixar os juros em segundo plano. O que dizer de países emergentes, como o Brasil?

Os países emergentes têm muito menos espaço para políticas contracíclicas do que os Estados Unidos e os efeitos da inflação são mais danosos. Nos EUA, a inflação reduz o valor real das dívidas e pode ser parte da solução dos atuais problemas. O Brasil não tem esse problema. Além disso, como a inflação no Brasil já é elevada, o Banco Central está entre a cruz e a espada.

Como assim?

A economia global está apenas entrando na pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. As commodities estão despencando e o mercado de crédito secou. Ou seja, é uma situação extremamente difícil e perigosa. O crescimento no Brasil certamente vai desacelerar. Mas, ao mesmo tempo, a inflação permanece elevada. Isso deixa ao Banco Central um espaço menor para responder como gostaria (à desaceleração). Além disso, o real depreciou-se fortemente. Reduzir a taxa de juros desvaloriza o real à frente. Mas, como as taxas de juros estão caindo rapidamente mundo afora, o Banco Central brasileiro acabará reduzindo dramaticamente o juro no País.

Quando?

Em breve (risos). Ainda que o Brasil esteja às voltas com preocupações inflacionárias, a economia global enfrenta o risco de deflação. Isso ocorre nos EUA, na China e na Europa. Os preços das commodities estão despencando e a produção industrial está caindo. Ou seja, o Brasil sentirá tudo isso muito em breve. Quaisquer que sejam as pressões inflacionárias, hoje, no País, elas serão revertidas em breve. Não sei por que o Banco Central brasileiro não está antevendo isso ainda. Não sei para onde eles estão olhando. Mas é difícil imaginar que o Brasil não terá uma forte queda da inflação no ano que vem, dado o ambiente internacional.

O BC do Brasil está sob grande pressão. Quais os riscos disso?

Há um risco claro de a desaceleração industrial brasileira ser ainda mais forte do que se espera. De outro lado, se baixo o juro mais rapidamente, pode alimentar a inflação além do que se espera hoje.

O sr. vê risco de recessão no Brasil?

Há uma grande chance de o Brasil experimentar uma recessão suave. É quase impossível escapar disso, uma vez que se espera uma profunda recessão no mundo. O Brasil vai sofrer como todos os outros, mas não acho que sofrerá mais do que os outros. Todas as mudanças que o Brasil implementou nos últimos anos vão permitir que a reação seja muito melhor do que há 10 anos. É uma situação desastrosa, mas, em termos relativos, o Brasil está melhor do que muitos outros países.

Qual sua projeção para o crescimento do Brasil em 2009?

Crescimento zero será um bom resultado, levando-se em conta o ambiente global.

Mas as pessoas aqui falam algo entre 2% e 3%.

Elas são otimistas. A economia global está afundando muito rapidamente.

Hoje se sabe que a tese do descolamento dos emergentes estava furada. Mas, ainda assim, alguns países estão sofrendo mais que os outros, como, por exemplo, a Hungria e a Rússia. Por quê?

A Hungria teria uma crise financeira de qualquer maneira. Eles tinham um endividamento instável, uma situação fiscal ruim. É um país que há muito tempo estava em minha lista como um dos que poderiam ter uma crise de dívida. A Rússia é outro assunto. É basicamente uma economia de commodity (petróleo). Não é muito diferente da Arábia Saudita - levando-se em conta que a Arábia Saudita vem poupando há muito tempo e, por isso, tem um colchão. O sistema russo não estava preparado para um petróleo a US$ 40. Eles nunca permitiram que a economia se diversificasse. O Brasil, por exemplo, tem uma economia muito mais diversificada do que a russa.

E a China?

A China também está sofrendo. Eu já esperava que a China poderia crescer no máximo 6% no ano que vem. Agora, não ficaria surpreso se o país crescesse menos ainda do que isso. Escrevi um artigo no Financial Times em fevereiro que dizia que o país com maior risco de decair era a China, porque apresentava uma trajetória de crescimento insustentável. Por isso, haveria uma desaceleração nos próximos um ou dois anos. Infelizmente, está acontecendo, talvez mais cedo do que esperava. Temos de cruzar os dedos para que a China não tenha uma ruptura econômico-social, porque isso poderia aprofundar ainda mais a recessão global.

Qual o seu cenário principal para a economia mundial em 2009?

Será a pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial, mas nada que se assemelhe à Depressão dos anos 30.

O que o sr. espera especificamente para os EUA?

Uma recessão que dure 2009 inteiro. Será pior do que a de 1983. Em 2010 e 2011, o crescimento ainda permanecerá bem lento, abaixo de 2%. Os preços das residências continuarão a cair e o desemprego, a subir. Os países emergentes também terão uma queda em 2009, mas se recuperarão mais fortemente em 2010 e 2011.

E o PIB americano em 2009?

Crescimento negativo entre 3% e 4%. No fim de 2009, começará a melhorar.

Com os EUA crescendo tão pouco, qual o impacto sobre o PIB (Produto Interno Bruto) mundial?

Pode ficar negativo, especialmente se a China desacelerar mais do que se espera. Isso ocorrerá certamente em um ou dois trimestres. Para o ano todo, espero um crescimento na faixa de 1%.

Qual sua expectativa em relação à administração Barack Obama? Pode restaurar a confiança?

Obama montou uma grande equipe, incluindo (Timothy) Geithner (que será secretário do Tesouro), (Larry) Summers (que será diretor do Conselho Econômico da Casa Branca) e (Paul) Volcker (ex-presidente do banco central americano, Fed, indicado para dirigir um conselho destinado a propor soluções para a crise). Por si só, isso já inspira confiança. Obama fará um serviço muito melhor do que (George W.) Bush no que se refere às pessoas se sentirem assistidas, e isso vai melhorar o humor da população. A administração atual já está em férias, desistiu completamente. Mas não deve haver dúvidas: mesmo os melhores e mais brilhantes não serão capazes de resolver este problema da noite para o dia.

O setor imobiliário precisa de um programa específico de recuperação?

Definitivamente. O setor imobiliário tem de ser parte do pacote que Obama está preparando. Espero que esse setor decline por mais dois ou três anos.

Quanto custaria um bom programa para o setor imobiliário?

O custo líquido poderia chegar a US$ 500 bilhões. Mas, na realidade, pode-se gastar qualquer valor. Suspeito que eles gastarão US$ 500 bilhões. O custo total disso tudo para o contribuinte americano vai ficar entre US$ 1 trilhão e US$ 2 trilhões. É o que eu disse em setembro. Ali as pessoas acharam que era demais. Hoje parece modesto.

Qual o impacto fiscal? Há risco de inflação?

Certamente haverá inflação. Mas a crise é tão severa e complicada que não há escolha.

Há risco de os EUA perderam seu rating (nota) AAA (a máxima das agências de risco)?

Não. Os EUA podem sempre aumentar seu endividamento, que causará, em troca, uma alta das taxas de juros. Se as agências tirarem dos EUA esse rating, estarão cometendo um grande erro. Seria estúpido.

O mundo está financiando o ajuste nos EUA, na medida em que os investidores têm se refugiado no dólar. Mas os EUA provocaram a crise, afinal. Por que isso tem ocorrido?

É certamente irônico, pois os EUA infectaram todos os outros. Mas é o que tem ocorrido. Quando a crise amainar, creio que o dólar terá uma forte queda.

A maioria dos analistas foi incapaz de prever a crise da forma como "explodiu". O que aconteceu?

Os analistas de Wall Street têm naturalmente um viés positivo. Mas os reguladores deveriam trabalhar para contrabalançar isso. O ex-presidente do Fed Alan Greenspan deve ser responsabilizado por grande parte do que aconteceu. É verdade que ele não estava sozinho, pois muitos analistas realmente acreditam que, naquela vez, "era diferente". O sucessor de Greenspan (Ben Bernanke) argumentou que os EUA nunca foram irresponsáveis em tomar muito dinheiro emprestado. Segundo ele, estávamos tirando vantagem de ‘uma poupança global farta’. Os EUA podem ser o principal culpado, mas seus parceiros comerciais poderiam ter ajudado mais do que fizeram, particularmente a China.

Como Alan Greenspan será descrito nos livros de história?

Ele é uma pessoa complexa. Mas acho que ele fez um grande trabalho na maior parte de seu período à frente do Fed. Mas, nos últimos anos, foi grande responsável por esta crise.


Fonte: Leandro Modé - O Estado de S. Paulo.