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OBAMA E A SALVAÇÃO DA LAVOURA.

Publicada em 26/01/2009 às 11:09:33

OBAMA E A SALVAÇÃO DA LAVOURA.Obama e a salvação da lavoura


Em tempos de crise financeira, o novo presidente norte-americano poderá intensificar o protecionismo, reduzindo as expectativas brasileiras sobre uma melhora no ambiente de agronegócios com os EUA.

Da redação São Paulo - Barack Obama conquistou corações e mentes pelo mundo graças a seu carisma, sofisticação e conhecimento do planeta para além das fronteiras americanas. Em resposta, o mundo passou a esperar dele maior atenção. O Brasil, porém, deve reduzir suas expectativas no que diz respeito a uma eventual melhora no ambiente de agronegócios com os Estados Unidos. Quando a equipe de Obama estiver trabalhando a todo vapor, provavelmente abrirá a temporada de apoio ao velho protecionismo aos produtores locais. Negociações com o Brasil, só depois que a crise financeira global passar.

“A crise tem provocado reação, especialmente nos países desenvolvidos, o que significa aumento do protecionismo interno”, explica Roberto Rodrigues, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e ex-ministro da Agricultura do governo Lula. Para ele, há demanda por políticas protecionistas em quase todas as nações: se antes houve relaxamento do sistema financeiro, agora o mundo clama por algum tipo de controle. E a forma mais fácil de responder ao apelo é o protecionismo. “Por isso, o Obama deverá acionar seus mecanismos no curto prazo.” A alimentar tal impulso está um velho temor dos governantes: o aumento do desemprego.

Para o ex-ministro, o movimento de Obama em direção ao protecionismo deve afetar quase que indistintamente os setores exportadores brasileiros. Alguns, porém, poderão sentir o peso da mão protecionista ainda com mais intensidade. “Açúcar, carne e etanol são os produtos que sempre queremos colocar no mercado americano, além do algodão e suco de laranja”.

Nem mesmo a menina dos olhos do governo brasileiro – o etanol combustível – deverá seduzir o novo líder americano na primeira metade de seu mandato. Tom Vilsack, escolhido por Obama para chefiar o departamento de Agricultura, é um velho defensor da adoção pelos EUA do item brasileiro, e chegou a pregar abertamente a redução da tarifa que o produto paga para entrar no mercado americano. Contudo, a regulação do setor deve seguir a tendência geral de favorecimento do produtor local.

“Pode ser que em 2012 haja mais espaço para o etanol brasileiro”, ressalva Fabio Silveira, da RC Consultores, um especialista em agronegócio. A aposta na data não é aleatória. Segundo estimativas da consultoria, a economia americana só voltará a crescer em 2011, após amargar retração em 2009 e 2010. Afastado o fantasma da crise, só então haveria espaço para negociações bilaterais e eventuais reduções tarifárias. É a aposta também de Rodrigues – seja para o etanol, em particular, seja para os demais itens da pauta de exportações brasileiras. “A tendência é de flexibilização, mas apenas no médio e longo prazos. Obama é pragmático, assim como o secretário Vilsack”, avalia. “Eles sabem que, mais dia menos dia, terão de abrir o mercado americano ao etanol brasileiro, pois não conseguirão produzir os 132 bilhões de litros anuais do combustível até 2017, uma meta do governo”.

Outra negociação que deverá ficar empacada até 2011 é a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial. “Não vai andar nada neste primeiro momento de crise”, diz Rodrigues. “Quando os preços dos produtos agrícolas andavam em alta, eu achava que era momento de negociar, pois não se justificavam os subsídios. Porém, agora que os preços caíram, os países desenvolvidos tendem a aumentar a proteção a seus produtores.”

Diante das perspectivas desfavoráveis no curto prazo – leia-se 2009 e 2010 –, é possível, porém, que o preço do milho passe por uma leve apreciação. Se o fenômeno se confirmar, será uma consequência da ajuda que Obama deve conceder aos produtores de etanol de seu país – por lá, usa-se o milho como matéria-prima, e não da cana-de-açúcar, como no Brasil. “Com boa parte da safra americana sendo desviada para a produção de combustível, o preço da commodity poderá subir”, avalia Silveira.

Também devem escapar de efeitos negativos, flertando com a estagnação, setores como o café. A razão aqui é particular. “Temos uma situação um pouco diferente do restante da agricultura: um estoque final dos mais baixos da história, em torno de 15% da safra mundial, ou seja, algo em torno de 20 milhões de sacas, um consumo crescente com produção estagnada e até mesmo em queda”, explica Lucio Dias, superintendente de Mercado Interno da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé). “Com isso, o mercado deverá manter-se e até mesmo firmar-se ao longo deste e do próximo ano”.

Se não há espaço para grandes expectativas, ainda há algum para surpresa – mas ele é pequeno. Instituições do setor como Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) dizem que vão esperar a divulgação oficial das políticas para a agricultura do governo Obama para fazer suas previsões para 2009. Esperam, assim, alguma boa notícia. Fabio Silveira, da RC Consultores, também pede precaução. Mas as previsões da consultoria já indicam que, em 2009, haverá queda nos preços internacionais das commodities – que devem regredir aos patamares de 2003.


Fonte: ANBA