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VAGALUMES.

Publicada em 06/04/2009 às 09:23:10

VAGALUMES.Vagalumes .






O tombo vertiginoso da produção industrial brasileira nos últimos meses do ano passado, em decorrência do agravamento da crise financeira internacional, deixou a todos desnorteados e, por isso, será preciso esperar algumas semanas para se ter uma noção mais clara sobre como a economia deverá se comportar em 2009. No entanto, já existem vagalumes no fim do túnel.


Como vagalumes, são luzes intermitentes que não ajudam o observador a enxergar o que vem pela frente.


Então a única referência existente é o espelho retrovisor, e o que se vê por ele é um quadro dramático.


A projeção desses números é que tem levado a maioria dos analistas financeiros a estimar uma redução do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009.


Curiosamente, o Banco Central, sempre temeroso diante da demanda doméstica, mostrou-se dissonante em relação a essas projeções de mercado. No recente relatório trimestral de inflação, o BC previu um crescimento de 1,2% para a economia brasileira este ano, ainda sem levar em conta a chance de novos cortes nas taxas básicas de juros.


Na próxima reunião do Comitê de Politica Monetária (Copom), marcada para os dias 28 e 29, os juros básicos recuarão para um patamar nunca testado desde o lançamento do real. Em breve, o efeito desses cortes será mais significativo na trajetória das finanças públicas e no próprio comportamento da arrecadação de tributos.


Se, por um lado as grandes empresas viram suas margens de lucro encolherem na venda de produtos e prestação de serviços, por outro também terão que arcar com menos encargos financeiros daqui para a frente. Qual é a resultante dessa combinação? Ninguém poderia hoje responder com segurança.


Entre os vagalumes que apareceram lá no fim do túnel estão as vendas de cimento e automóveis no mercado interno. A indústria de cimento também não tem muito do que se queixar. O mesmo não se pode dizer dos fabricantes de vergalhões, material hidráulico e cerâmicas (são os tais sinais conflitantes, no caso dentro da própria construção civil, que têm contribuído para embaralhar as projeções).


Quanto aos veículos, as vendas internas deverão ser suficientes para manter a indústria funcionando diariamente em dois turnos.


O terceiro turno praticamente desapareceu porque as exportações desabaram (queda de 40%, o que está compatível com a retração ocorrida, em média, nos principais mercados no exterior).


Mas se o terceiro turno desapareceu nas fábricas, o quadro pouco se alterou para os que trabalham nas revendedoras (cerca de 250 mil), lojas de autopeças e companhias que se dedicam ao seguro de automóveis.


As vendas de caminhões novos não reagiram como a dos carros. Porém o movimento nas estradas voltou a crescer e dentro das cidades continuamos enfrentando engarrafamentos causado pelo excesso de veículos nas ruas. Há uma recuperação no consumo de combustíveis, segundo a Petrobras, e no de eletricidade (segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico).


A melhora no mercado de automóveis seria apenas uma visita da saúde ou uma indicação que outros bens de consumo dependentes do crédito poderão ter suas vendas normalizadas? Se depender da agropecuária, as coisas não irão tão mal, pois o clima colaborou para o plantio e a desvalorização do real compensou a queda dos preços em dólar. Em 2008, o agronegócio propiciou ao país um saldo comercial (exportações menos importações) superior a US$ 50 bilhões e tudo indica que o setor conseguirá repetir a dose em 2009, impulsionado pelas exportações para a Ásia (em março, a China ultrapassou os Estados Unidos na lista dos maiores importadores de produtos brasileiros). Igual desempenho não se poderá esperar dos minérios.


De qualquer forma, os analistas começaram a rever suas projeções para o saldo da balança comercial. No lugar dos US$ 11 bilhões a 14 bilhões já aparecem projeções de até US$ 25 bilhões para o superávit.


Isso afastaria do horizonte o temor de uma pressão mais forte para desvalorização do real, como reflexo da escassez de financiamentos em moeda estrangeira.


Entre os indicadores macroeconômicos, as contas do governo federal novamente causam preocupação, devido ao déficit registrado em fevereiro, mês que tradicionalmente o saldo é positivo porque nessa época do ano a máquina burocrática ainda não teve tempo de se ajustar às dotações orçamentárias programadas para o exercício.


O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, atribuiu o déficit a um descompasso temporário. Enquanto a arrecadação tributária caiu inesperadamente, em consequência da trombada sofrida pela economia no fim de 2008, o aumento de despesas ocorrido resultou de compromissos assumidos antes da crise.


O déficit primário teria sido então inevitável, mas a autoridade espera retomar a trajetória de superávits com a recuperação da arrecadação federal em março e porque a equipe econômica resolveu botar o pé no freio das despesas ao constatar o tamanho do estrago deixado pela crise financeira.


Felizmente esse déficit foi em parte neutralizado pela redução dos gastos com juros. A dívida líquida consolidada do setor público até diminuiu em R$ 300 milhões este ano.


Fonte: GEORGE VIDOR. O GLOBO.