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CRISE PODE LEVAR A UM NOVO CHOQUE DE PREÇOS.

Publicada em 27/04/2009 às 16:06:27

CRISE PODE LEVAR A UM NOVO CHOQUE DE PREÇOS.Crise pode levar a um novo choque de preços.



Depois de alarmar o mundo no ano passado com a tese de escassez alimentar a partir de 2050, Paul Roberts chega ao Brasil com discurso mais um tanto quanto moderado no início do próximo mês para participar do 1 Interfeed Leadership Meeting. O Fórum, realizado pelo Sindicato da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), com apoio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e participação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês) vai colocar em pauta os desafios da produção de alimentos. Já o jornalista vai "desafiar o status quo e levar os integrantes da cadeia do agronegócio a repensar idéias consideradas normais sobre produção de alimentos e sustentabilidade", como ele mesmo antecipa em entrevista exclusiva concedida à Gazeta Mercantil.


Gazeta Mercantil - O livro "The End of Food" foi escrito em um momento pré-crise, em que a demanda mundial por alimentos estava elevada e o crescimento econômico, acelerado. O que mudou desde então?


Os preços dos grãos começaram a cair desde o ano passado. Por outro lado, ainda estão 30% mais altos que há três anos, causando pressão sobre as indústrias que consomem grãos. Podemos ver ainda o próximo choque de preços: as cotações atuais de grãos estão afetando os produtores e forçando-os a reduzir a produção. Isso significa redução de estoques e, consequentemente, preços mais altos quando a demanda retornar. Pelo lado positivo, acredito que uma das mudanças foi o aumento global da consciência sobre os riscos da segurança alimentar.


Gazeta Mercantil - O senhor ainda acredita que em 2050 faltará alimentos para suprir a demanda mundial, mesmo com a desaceleração econômica?


Existe um claro potencial de escassez. A população está crescendo, os hábitos alimentares mudando e os recursos naturais, como água e energia, são finitos. Por outro lado, estamos atentos a formas de prevenir a crise, adotando, por exemplo, novos métodos de gestão e produção. Talvez tenhamos saídas.


Gazeta Mercantil - Qual o papel do Brasil nesse cenário de produção e demanda por alimentos?


O Brasil tem um grande potencial como fornecedor, em termos de terra arável, disponibilidade de água e mão-de-obra. Tudo isso fará com que o Brasil ocupe uma posição de destaque no futuro.


Gazeta Mercantil - O aumento da produtividade pode ser uma solução para o dilema entre produção e demanda? A saída seriam os Organismos Geneticamente Modificados?


Não. A tecnologia transgênica pode contribuir, mas ainda há um trabalho considerável a ser feito via métodos convencionais, como, por exemplo, a melhora da forma de utilização do solo e da água.


Gazeta Mercantil - O Brasil é apontado como grande abastecedor mundial por congregar fatores como área plantável e disponibilidade de água. Porém, há uma discussão no País sobre reservas ambientais para populações indígenas e quilombolas. O senhor acredita que esse pode se tornar um problema para a produção de alimentos no mundo?


Depende do quanto a terra está sendo reivindicada no Brasil. O desafio é encontrar formas de crescimento sustentável, aumentar a produção sem comprometer os recursos naturais, como o solo. Sem esses recursos, não é possível crescer.


Gazeta Mercantil - Como a agricultura brasileira e mundial pode suportar a escassez de crédito no mercado econômico e continuar suprindo a demanda por alimentos?


Não é possível fazer as duas coisas de forma simultânea, infelizmente. Da mesma forma que os produtores em outros países, os fazendeiros brasileiros terão provavelmente que adiar ou diminuir o ritmo das expansões até que a crise de crédito se amenize. Felizmente, a demanda global por carne e grãos desacelerou graças à recessão. Assim, há menos pressões de demanda, pelo menos por enquanto.


Gazeta Mercantil - Além da atual escassez de financiamento, quais são os outros riscos e obstáculos que a produção agrícola enfrenta para atender a demanda mundial?


Recursos básicos, como qualidade do solo e de energia, estão em risco. Os preços dos combustíveis estão baixos e é provável que continuem assim por alguns anos. Mas eles irão eventualmente subir até um ponto em que o comércio global fique mais caro, tornando a cadeia de suprimentos global difícil de sustentar. Os produtores e fazendeiros também devem se atentar à segurança alimentar. A entrada de alimentos contaminados nos Estados Unidos e outros grandes mercados consumidores provocarão a criação de exigências regulatórias cada vez mais duras. Por este motivo, exportadores deverão encontrar formas de melhorar a segurança alimentar sem aumentar muito seus custos - um grande desafio.


Gazeta Mercantil - A demanda por alimentos está passando ou passará por algum tipo de mudança, como a redução do consumo de proteínas e o aumento do consumo de cereais, por exemplo?


Essa é uma questão crucial. Muitas previsões, como as da FAO por exemplo, falam em aumento regular do consumo global de carne, especialmente nos países em desenvolvimento. Mas percebemos fatores que podem adiar esse crescimento: os preços dos grãos, escassez de água, assim como preocupações sobre os impactos climáticos da criação de gado.


Gazeta Mercantil - Como deve se comportar a comercialização, física e futura, no mercado de commodities agrícolas de agora em diante? De que maneira a presença de especuladores nesse mercado pode influenciar a intensidade dessas negociações e as cotações das commodities?


Não saberemos até que a demanda retorne. Existe muita preocupação sobre o impacto da especulação, especialmente o papel crescente que os hedge funds tiveram nos mercados de grãos, petróleo e outras commodities. Os especialistas continuam a debater até que ponto os especuladores influenciaram ou não os preços - ou até que ponto os preços influenciaram especuladores. Alguns legisladores propuseram limites à ação de especuladores no setor de alimentos. Mas não saberemos os efeitos da especulação até a demanda retornar e os preços começarem a subir.


Fonte: Gazeta Mercantil .