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TERRA BRASILEIRAS TORNAM-SE NOVO FILÃO.

Publicada em 28/08/2008 às 10:51:25

Terras brasileiras tornam-se novo filão
28/08 - 08:36
As terras agrícolas brasileiras se transformaram em um novo filão de negócios. Nos próximos meses, quatro empresas planejam investir no país nada menos que US$ 1 bilhão na compra de propriedades rurais com perspectiva de valorização futura. Esses recursos, somados aos que devem ser aportados por companhias já instaladas no país, são suficientes para comprar 5% da área agricultável do Brasil, de acordo com levantamento da consultoria Agroconsult.

Em comum, esses grupos crêem que o governo brasileiro cometeria um erro ao proibir a venda de terras a estrangeiros. Para eles, a medida poderia inibir investimentos e a entrada de novos recursos. A simples possibilidade de que isso aconteça, porém, tem levado alguns deles a antecipar seus planos para o país. E isso explica em boa parte a avalanche de recursos.

Os grupos interessados em terras brasileiras têm se associado a investidores e fundos, e muitos já se preparam para a abertura de capital. Além do fato de que a negociação de terras passou a chamar a atenção do setor financeiro, a emissão de ações dá opções de saída para os fundos e permite que estrangeiros participem desse mercado mesmo que o governo venha a restringir a venda de terras para não-brasileiros.

De todas as empresas que pretendem investir no Brasil nos próximos meses, o maior aporte deverá vir da Agrifirma, que tem entre seus acionistas investidores ingleses que atuavam no mercado de mineração e metais. A empresa pretende captar US$ 500 milhões com a emissão de ações no mercado londrino para pequenos negócios com alto potencial de crescimento, o AIM. Todos os recursos serão utilizados em terras agrícolas brasileiras, e a Agrifirma pretende colocar em prática a mesma filosofia da SLC Agrícola - que abriu seu capital no ano passado e que adquire terras para plantio de grãos. No país, a Agrifirma já adquiriu 20 mil hectares, mas pretende crescer dez vezes mais.

Com expertise em açúcar e álcool, o grupo Cosan, o maior do país, está criando a empresa Radar, que também terá sócios estratégicos estrangeiros. O perfil, porém, é diferente do da Agrifirma. A Radar pretende atuar com especulação imobiliária (compra e venda de terras agrícolas), aproveitando o "boom" desse novo e valorizado mercado de terras.

O Valor apurou que o interesse da Cosan no mercado de terras agrícolas surgiu há alguns meses, quando o grupo decidiu montar três projetos de usinas "greenfield" (construídas a partir do zero) no sudoeste de Goiás. A companhia percebeu que as terras próximas de onde seriam construídas as suas usinas começaram a se valorizar.

Cada vez mais escassas no mundo, as terras no país tiveram valorização média de 20% nos últimos 12 meses. Levantamento da consultoria Agroconsult mostra que o potencial de compra desses novos grupos e companhias já instaladas no país chega a 4 milhões de hectares (5% da área agricultável do país). De olho na forte valorização que as terras brasileiras podem ter no curto e médio prazo, a americana AIG Capital Investments adquiriu 37% de participação na Calyx Agro. A empresa tem como seus principais acionistas o grupo francês Louis Dreyfus Commodities, que no país é gigante em grãos e está crescendo em cana. O grupo Calyx Agro também negocia propriedades rurais na Argentina e Uruguai. "A idéia é comprar terras para investir na produção agrícola e vender essas propriedades depois", afirma Marcelo Aguiar, diretor da AIG Investments. Segundo Aguiar, a Calyx deverá abrir capital no país para futuras captações de recursos. "Aguardamos o mercado se recuperar para ir à bolsa."

O CEO da Calyx Agro, Axel Hinsch, conta que a empresa já tem duas propriedades na região do Mapito - nova fronteira agrícola que compreende os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. "Vamos alcançar 100 mil hectares até o final do ano", disse.

Tanta pressa dessas empresas em investir no país tem justificativa. Os preços de terras agrícolas continuam firmes no Brasil, principalmente nas regiões produtoras de soja e áreas de pastagens. No país, a cotação média do hectare encerrou o bimestre maio/junho a R$ 4.287, com aumento de 17% e ganho real de 2,9% em relação há 12 meses, segundo levantamento realizado pela consultoria AgraFNP. Nos últimos 36 meses, a valorização média foi de 40,5%, frente uma inflação de 20% no período, resultando em um ganho real de 6,4%.

Como a revisão na lei que regulamenta a compra de terras por estrangeiros ainda não saiu, as compras financiadas por estrangeiros estão aquecidas, sobretudo no Centro-Oeste e Nordeste, de acordo com a AgraFNP. Para as terras negociadas para plantio de grãos, os preços são indexados em sacas de soja. Com a valorização das áreas, há propriedades que já estão sendo negociadas a 600 sacas por hectare. O que atrai interesse para Mapito são os preços. Lá há terras negociadas a 60 sacas por hectare.

"O foco mundial em alimentos e energia renovável tem atraído os investidores ao país", afirmou Ricardo Freire, da empresa de consultoria imobiliária Colliers.

A Vision, gestora de recursos que administra cerca de R$ 1 bilhão, busca oportunidades em terras para clientes estrangeiros interessados em agronegócios, conta João Adamo, diretor-comercial da empresa. A empresa foi criada em 2006 por ex-banqueiros do Bank of America no país.

Considerada um case de sucesso no Novo Mercado da Bovespa, a SLC Agrícola também compra terras. Mas seu propósito não é a especulação no mercado de propriedades rurais. Hoje o grupo já possui cerca de 200 mil hectares plantados e deverá ampliar seus domínios nos próximos anos. Com ações negociadas na bolsa desde o dia 15 de junho de 2007, os papéis da empresa registravam valorização de 61,9% até ontem. No mesmo período, o Ibovespa subiu 3,36%. É considerado a oferta inicial de ações mais bem-sucedida, o que permitiu que a empresa voltasse a lançar ações este ano.

Também na bolsa, a BrasilAgro encerrou o primeiro ano agrícola com 22,8 mil hectares explorados. Na bolsa desde maio de 2006, a empresa teve uma desvalorização até ontem de 0,10%, enquanto o Ibovespa ficou em 34,97%.


Autor: Mônica Scaramuzzo e Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico